R&R: Apesar de ser um dos maiores especialistas do mercado de gestão de risco, o Sr. decidiu se afastar. Quais as razões que o levaram a esta decisão?
YT: Fundamentalmente foram duas: a de querer ser dono do “próprio nariz” e o mais importante, de dedicar mais tempo para mim e para a minha família.
R&R: Pensa ainda em voltar?
YT: Não.
R&R: Nos últimos anos o Sr. fez algumas incursões como empreendedor no mercado de risco. Qual foi o aprendizado e o que o Sr. gostaria de recomendar àqueles que pretendem seguir este caminho?
YT: Que o mercado de recuperação de credito, com margens se reduzindo a cada ano que passa, está com muitas empresas para recuperar e poucos contratantes que possam fornecer papeis para se cobrar.
Se pretendem entrar no mercado de recuperação de credito, é melhor comprar parte de uma empresa que já atua nesse mercado.
R&R: Como o sr. vê o relacionamento entre contratantes e contratados na processo de recuperação de crédito?
YT: Que com raríssimas exceções entre os contratantes, PARCERIA não passa de mera palavra. Não se pratica em momento algum no relacionamento contratante/contratado.
Que ainda é necessário avançar muito na formação do conhecimento dos gestores dos dois lados do balcão, para tirar o máximo dos custos envolvidos na operação de recuperação.
Mais do que os indicadores financeiros – margem, fluxo, rentabilidade e outros, olhassem o futuro considerando o atual estagio da “parceria” e a própria dinâmica gerencial de custos dos que contratam o serviço.
R&R: Como o Sr. avalia os atuais profissionais de gestão de risco com aqueles que trabalharam com o Sr. em grandes corporações?
YT: Os aspectos de formulação e de planejamento das políticas, dos projetos, das normas e das macro atividades que mudem profundamente os processos em gerenciamento de risco dentro de um horizonte definido, foram onde se destacaram muitos profissionais que trabalharam a época.
A essa mesma época, também tivemos uma equipe de “fazedores” que não somente implantaram aquilo que chamamos de “Quick Hits” – “ovos de Colombo” com grande impacto nos indicadores de risco em 6/9 meses, mas que mudaram o estado da arte em gerenciamento de risco da empresa em 2/3 anos.
R&R: o Sr. é considerado até hoje um dos maiores estrategistas de todos os tempos na gestão de risco. Qual deveria ser a evolução natural deste segmento?
YT: Entendo que os processos gerenciais em gestão de risco hoje estão muito divididos – quando não pulverizados, em varias áreas/departamentos. Não acho que devamos ir para um modelo onde tenhamos uma centralização de todos os macros processos. Mas que as atividades de “pensar” e “fazer” de um macro processo seja responsabilidade de uma única área funcional.
Após caminhar para uma estrutura funcional onde pensar e fazer constituem as bases de atuação, entendo que gerenciamento de risco será uma função em que informações serão a base de tomada de decisão para a concessão e manutenção de credito, prevenir e cobrar créditos e, por fim, recuperar ou vender ativos considerados perdidos.
R&R: Como o Sr. analisa o momento atual do mercado de recuperação de crédito?
YT: Tendendo a uma piora ainda maior, pois o cenário é de aumento do desemprego, da inflação e de queda na renda dos assalariados. O que piora a situação é que não se tem nenhuma perspectiva de algum crescimento econômico até 2.017.
Isso significa que o grande lago da inadimplência vai aumentar rapidamente e, suas águas estarão cada vez mais turvas para se pescar. Há que se ter muito cuidado em se realizar despesas para recuperar.
R&R: Já há algum tempo não há nada de novo em termos de instrumentos de cobrança, seja no Brasil ou no exterior. O Sr. diria que estes instrumentos são suficientes para alcançar bons resultados ou o mercado carece de inovação?
YT: Entendo ser extremamente difícil que surja algum novo instrumento inovador para “falar” com devedores. Entendo que certos instrumentos já são utilizados no seu limite – discadores, ura e voice mail, explorando o telefone ou, SMS substituindo as propostas de negociação via mala.
Essas inovações na aplicação dos instrumentos tradicionais de cobrança, surgiram da necessidade de se aumentar as margens de lucros, via redução nos custos de se cobrar. Essas margens, ano após ano, cada vez mais estão se reduzindo.
Talvez dentro dessa visão do início do precipício chegando, uma ideia inovadora surja – não necessariamente pela novidade em si ou em termos de tecnologia.
R&R: Os atuais índices de recuperação de crédito estão dentro das expectativas ou estão aquém das possibilidades das recuperadoras de crédito?
YT: Não posso dizer por não ter acesso aos indicadores de recuperação das empresas.
R&R: Com a alta nas taxas de juros e com a população bastante endividada, o Sr. vê possibilidade de explosão da inadimplência, com uma maior necessidade de alocação de recursos para recuperação e, consequentemente “quebradeira” de muitas assessorias de cobrança?
YT: Essas variáveis exógenas realmente contribuem para que a explosão ocorra. Mas a realidade vem quando as variáveis endógenas também estão fragilizadas. Principalmente nas políticas de concessão e de manutenção de credito, entendendo a cobrança de dividas até 30 dias como parte deste processo.
E acho que a maioria das empresas já fizeram a lição de casa e, de alguma forma ou outra fecharam ou restringiram essas variáveis. Portanto, entendo que não haverá a explosão de inadimplência, a não ser que o quadro macro econômico se agrave e perdure por muito mais tempo.
O risco de “quebradeira” irá se agravar ainda mais do que hoje, se não houver cuidado e um entendimento detalhado sobre onde e quanto gastar para se recuperar, em um contexto onde além do endividamento, o devedor pode vir a estar desempregado – em um cenário de inflação alto, comprometendo ainda mais a renda disponível para tentar recuperar seu credito na praça.
R&R: Os contratantes dos serviços de recuperação de crédito deram o recado de que o modelo de venda de PAs fixas parece esgotado. Por outro lado, as empresas contratadas avaliam que o modelo de taxa de sucesso não atende às suas necessidades. Qual a tendência para equalizar estas demandas?
YT: Entendo que o modelo de taxa de sucesso é praticado há muito tempo, sempre com uma lógica em que se paga um FEE maior se o valor recuperado for de dividas com atraso alto. Neste modelo, o custo para se recuperar não importa para quem contrata e, portanto, ao longo do tempo não se reajusta as remunerações pela inflação do setor. Com as políticas de negociação com desconto ao devedor, concedido pelos contratantes, parece que o reajuste tornou se tabu para acontecer.
Ocorre que a persistir esse modelo – dado que o de venda de PA`s por preço fixo não será mais admitido, muitas recuperadoras não sobreviverão por absoluta falta de fluxo de caixa gerado pelo lucro da operação. Terão alguma sobrevida se irem e conseguirem linha junto ao sistema financeiro, hoje com critérios muito mais rígidos na concessão que há 1 ou 2 anos atrás.
Um caminho a seguir seria juntar os 2 modelos, eliminando se o que é ruim de cada um dos modelos. Outro caminho talvez seja entidades representativas de contratantes e contratados sentarem para se chegar a um entendimento.
Conheço 2/3 contratantes que, em determinado período e dentro de algumas condições, custeiam parte das despesas com mala. São parcerias pontuais... mas um começo !!!!
R&R: Quais as causas que explicam que os índices de recuperação no mercado americano sejam superiores àqueles praticados no Brasil, já que em termos de instrumentos, eles mais ou menos se equivalem?
YT: Além de dispor de ações de recuperações mais maduras e avançadas que no Brasil – como venda de carteiras, não podemos esquecer que o way of life do americano é baseado em consumo e na obtenção de créditos para a manutenção desse modo de vida. Estar no cadastro positivo com uma boa pontuação é essencial. Então há um natural interesse dos devedores em negociar suas dividas. Do outro lado, para facilitar a negociação – e o cumprimento do que foi acordado, as credoras disponibilizam varias formas para que eventuais percalços sejam superadas – postergação de parcela (s), premiação por pontualidade de pagamento e outras.
R&R: Falando um pouco dos sistemas de cobrança existentes no país, como o Sr. os considera, quando comparados com aqueles utilizados em mercados mais avançados?
YT: Os sistemas criados e voltados para as recuperadoras de credito do Brasil são sensivelmente melhores que o visto lá fora. Por sua facilidade em tratar contratos diversos, pela agilidade em poder mudar diante de novas necessidades e, pelos processos de controle operacionais existentes.
R&R: Que características deve ter um bom sistema de recuperação de crédito?
YT: Alem do acima descrito, acredito que deva ter capacidade de dispor de interfaces para o tratamento de dados obtido na operação, facilidade em tratar informações trabalhadas externamente, além de ter um processo para obtenção de informações gerencias das carteiras.
R&R: Que conselhos o Sr. daria para aqueles profissionais que lidam com todo tipo de risco na sua atividade profissional?
YT: Investir em obter e gerar informações; ter pessoal qualificado para analisar e, acima de tudo, utilizar essas informações, é tão ou mais importante que os processos operacionais.
Fonte: riscoerecompensa.com.br